quarta-feira, 20 de maio de 2009

O jornalismo cidadão existe mesmo?

O que mais seria o jornalismo colaborativo, também chamado cidadão, se não a possibilidade de discussão, informação, comunicação, formação de opinião e debate entre pessoas que não necessariamente sejam jornalistas por formação?
Por isso mesmo dou continuidade à polémica lançada (não necessariamente criada pois já existe desde que existe jornalismo cidadão, mas lançada) por Tiago Dória, em seu blog Tiago Dória Weblog a partir do texto Jornalismo cidadão não existe.Vejamos o texto:

"O jornalismo cidadão não existe. É um termo, uma etiqueta, uma tag, um chavão inventado por pessoas (ligadas ao jornalismo tradicional) para tentar racionalizar o fato de que agora, especialmente graças à grande disponibilidade de certas tecnologias de hardware e software (Internet, câmeras digitais, de vídeo, smartphones, telefones com câmera), as pessoas podem publicar conteúdo que tenha caráter informativo.
(…) Não se trata de uma concorrência entre ‘blogueiros e jornalistas’, menos ainda uma guerra ‘TV vs internet’, se trata de começar a considerar melhor e respeitar mais as pessoas que publicam na internet.
Creio que tão pouco estamos interessados em que nos chamem de jornalistas (porque não somos), o que estamos interessados é que se encontrarem uma notícia por meio de, por exemplo, Twitter, blogs e YouTube, sejam suficientemente sensatos e aprendam a dar crédito a pessoa e não à ferramenta de publicação. (diferente de algo como ‘crédito: YouTube’ ou ‘crédito: internet’)
Em poucas palavras, se trata de construir um ambiente de respeito mútuo. Nem mais nem menos”.

É inegável o fato de que os blogs em geral e todas as outras ferramentas da Internet não podem mais ser ignoradas.A modernidade caminha junto com o tempo e muda as coisas de forma que aqueles que não se adequam as novidades são chutados para fora do mercado.
Os médicos precisam ler e participar de palestras pois a algumas décadas não existia, ou pelo menos não era de tamanha intensidade, algumas doenças como a própria ADIS.Os advogados precisam estudar todos os dias pois a lei muda constantemente.Os engenheiros, os agrónomos, os veterinários, os estudiosos e também os jornalistas precisam se adequar ao que é novidade.
O jornalismo cidadão entra justamente pra preencher essa lacuna, ou seja, é o nome dado a atividade jornalística praticada por qualquer pessoa a partir da Internet ou até mesmo de outros meios como o SMS.
Para Tiago não passa disso.Segundo ele as pessoas que realizam essa atividade não possuem o reconhecimento necessário dos grandes meios de comunicação e acabam ficando a margem dos jornalistas profissionais.
O grande problema é a questão da visibilidade.Os jornalistas cidadãos não podem ser ignorados pelo jornalismo profissional pois juntos fazem muito barulho e possuem sua relevância à sociedade, mas separados não são grande coisa justamente por não aparecerem.
Boa parte dos blogs são destinados à discussão de um determinado assunto e mesmo os que se destinam a todos realizam apenas uma postagem por dia ou não muito mais do que isso enquanto os jornais e revistas possuem páginas e páginas para a exposição de variados assuntos.Além do mais os grandes veículos de comunicação são patrocinados por grandes empresas enquanto os blogs, normalmente são iniciativas pessoais sem qualquer tipo de incentivo.
Os jornais impressos circulam diariamente nas mãos de milhares de pessoas bem como as revistas semanais e mensais e os jornais televisivos.Já os blogs é que são milhares espalhados pelo mundo acessados por apenas algumas pessoas.Mesmo os blogs famosos que são acessados por um público grande não conseguem concorrer com as edições virtuais dos veículos tradicionais.
É comum a discussão sobre a imparcialidade das matérias jornalísticas e o jornalismo cidadão é apontado como uma solução para isso.É preciso analisar com muito cuidado pois tanto um(jornalismo profissional) como o outro(cidadão) tem suas desvantagens.
Os veículos tradicionais são sim parciais, até porque é praticamente impossível chegar a imparcialidade mesmo que a busque incessantemente.Mas a maioria tem sim sua parcela de parcialidade voluntária
Por exemplo:um veículo que é patrocinado por uma empresa de distribuição de petróleo e tem de retratar o fato de que um navio desta mesma empresa sofreu um acidente e derramou petróleo no oceano.É claro que não vão denegrir a imagem do patrocinador, menos ainda mentir sobre o fato, vão retratar as coisas com veracidade, mas sempre tentando amenizar a situação.
O jornalismo cidadão, no entanto, retrataria a verdade nua e crua.
O problema é que qualquer pessoa pode exercer a função de jornalista cidadão e aí é que esse tipo de jornalismo passa a ser menos confiável porque a informação dada neste tipo de jornal pode não ser verídica ou incompleta ou meia falsa ou tendenciosa ou até mesmo descabida.O público corre risco de ser enformado de uma mentira e não vai haver ninguém pra se responsabilizar por isso.Já os veículos tradicionais dão a cara pra bater, tem um nome a zelar e além do mais são cobrados por seus patrocinadores.
Chegamos então ao ponto: o jornalismo cidadão existe mesmo?Ou é somente um nome dado à essa atividade que não pode mais ser ignorada?Talvez seja mais fácil responder a esse questionamento usando o nome de "jornalismo colaborativo" como mais fiel do que "jornalismo cidadão" ao que este representa.
Seria esta uma forma das pessoas colaborarem com o jornalismo profissional, expondo suas opiniões, propondo debates e discussões e até informando.É isto que os grandes meios entendem e praticam, ou seja, reservam espaços e fazem dialógos com as opiniões dos jornalistas cidadãos, mas sem deixar de cumprir sua função pois o outro seria apenas um complemento e não uma concorrência com este.

3 comentários:

  1. Mas qual a sua opinião Ricardo? Pra você o jornalismo cidadadão existe mesmo?

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  2. Uma coisa que gera muita confusão e as vezes atrapalha a discussão sobre o assunto é ficar se prendendo a nomenclaturas, se o jornalismo é colaborativo, se é cidadão, conceitos de parcialidade ou imparcialidade... as vezes temos que nos ater ao fato e aos efeitos, do que a nomes...

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